Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil.
De saída da Casa Civil em janeiro, a ministra Gleisi Hoffmann começa a
moldar o discurso para a disputa do governo do Paraná, em 2014. Mesmo
sem oficializar a candidatura, a petista faz uma série de críticas à
gestão Beto Richa (PSDB) e questiona as declarações de que a
administração federal prejudica o estado. Para ela, o crescimento
paranaense nos últimos anos se deve à política econômica dos governos
Lula e Dilma Rousseff.
“Talvez pudéssemos fazer mais, se nós não
tivéssemos um vazio, um deserto de projetos e propostas no governo do
Paraná”, afirmou, em entrevista concedida no Palácio do Planalto, semana
passada. Dura na avaliação do provável adversário eleitoral no próximo
ano, Gleisi se emocionou ao falar dos episódios mais marcantes na
passagem pelo ministério. A ministra chorou ao lembrar de uma visita que
fez a uma unidade de saúde no Tatuquara, em Curitiba, para verificar o
andamento do programa Mais Médicos.
Direto ao ponto: já dá para chamar a sra. de candidata ao governo do Paraná?
As eleições cabem a 2014. Portanto, é quando elas serão discutidas e
as definições serão tomadas. Eu tenho várias manifestações favoráveis a
eu ser candidata ao governo do Paraná, de lideranças no estado, de
prefeitos, de partidos aliados. Mas essa é uma discussão que ainda vamos
fazer no início do próximo ano.
Ainda existe alguma possibilidade de não ser candidata e permanecer no ministério?
A possibilidade maior é de eu sair do governo em janeiro. Isso não
quer dizer necessariamente que eu saio para ser candidata. A avaliação
sobre eu ser candidata ou não será feita no início do ano, com a
participação de várias pessoas e partidos que participam da política
paranaense.
Então janeiro é mesmo a data-limite para a saída da Casa Civil?
Sim, a presidenta pretende anunciar as mudanças ministeriais a partir de janeiro.
Sem citá-la como candidata, qual é o desafio do PT na próxima eleição paranaense?
Apresentar uma proposta de estado que seja factível, em termos de
gestão do estado, de administração, e que isso tenha como objetivo a
sustentação de um crescimento e de um desenvolvimento harmonioso do
Paraná e de todas as suas regiões. O Paraná é um estado rico, de gente
trabalhadora, com grande potencial. Infelizmente, o atual governo do
estado não tem dado os estímulos necessários nem tem feito as
concertações necessárias para ampliar esse potencial de desenvolvimento.
E quais seriam essas concertações?
Uma grande colaboração que o governo do estado poderia dar, em
primeiro lugar, é pagar em dia seus fornecedores. Em segundo lugar,
deveria estimular principalmente a micro e pequena empresa e rever sua
política de substituição tributária. Em terceiro, enfrentar de vez a
questão dos pedágios distorcidos e que tanto contribui para onerar a
nossa produção.
A justificativa do governo do estado para a questão do
pagamento dos fornecedores passa pelo atraso na liberação de empréstimos
que dependem do aval da União, o que sempre foi tratado como uma
questão política e até de perseguição do governo federal. Qual é a sua
visão sobre isso?
Eu lamento que se tente justificar a incapacidade e a incompetência
administrativa do governo estadual e do chefe do Executivo colocando a
culpa em outras situações e outras pessoas. Os empréstimos do Paraná só
não saíram porque o estado estava com pendências no Cadastro Único de
Convênios da União e não respeitava a Lei de Responsabilidade Fiscal, já
demonstrando uma desgovernança.
Mas sempre ficou clara que essa era uma questão técnica? A
sra. sabia dessas dificuldades ou ficou tudo restrito ao Tesouro
Nacional?
Tudo que dependia de nós para encaminhar os empréstimos foi feito.
Inclusive esses processos, quando passaram pela Casa Civil, passaram de
maneira muito rápida. Não ficou sequer um dia aqui antes de ser
despachado. As discussões sobre os empréstimos foram técnicas. Faltou na
realidade gestão financeira e administrativa para o estado. O governo
da presidenta Dilma tem se pautado por ter uma administração
republicana. Todos os estados brasileiros são contemplados com recursos,
programas, com os projetos que o governo federal coloca à disposição da
sociedade brasileira. Fizemos um grande esforço para que o Paraná
pudesse ser contemplado na maioria desses programas. E o estado foi
contemplado com investimentos em rodovias, nas BRs-153, 163 a 487, que
são trechos com infraestrutura finalizada. Vamos fazer a licitação da
BR-163, de Cascavel a Marmelândia. Finalizamos o contorno oeste de
Cascavel. Em janeiro vamos entregar o contorno de Maringá. Estamos
fazendo um grande investimento em mobilidade urbana em Curitiba. Temos
grandes investimentos para o porto de Paranaguá, para os nossos
aeroportos, em São José dos Pinhais, no Bacacheri, em Foz do Iguaçu, em
Londrina. O programa Minha Casa, Minha Vida tem um dos maiores
investimentos no Paraná. Há entregas de máquinas e equipamentos,
reformas de unidades básicas de saúde de unidades de pronto atendimento.
Colocamos duas universidades no estado. Ou seja, o governo federal tem
feito grandes investimentos no Paraná.
Mas há muita reclamação sobre o volume de repasses e de investimentos diretos em relação a outros estados.
Injustamente. Talvez pudéssemos fazer mais, se nós não tivéssemos um
vazio, um deserto de projetos e propostas no governo do Paraná.
Então o problema é esse, a falta de projetos?
Com certeza. Há uma baixa iniciativa do governo do estado em relação à
captação de recursos federais e de ampliação de programas e projetos.
Até agora a campanha pelo governo do estado vem sendo travada
nessa esfera, numa discussão sobre uma possível discriminação que o
governo do estado promove contra o Paraná. Isso vai entrar no debate
eleitoral para valer, no ano que vem?
É difícil fazer uma avaliação de futuro. Eu espero que seja uma
campanha que, quem quer que sejam os candidatos que participem, possa se
pautar por um debate propositivo para o nosso estado. O Paraná é um
estado muito pujante. Se tiver boas iniciativas e uma boa coordenação de
governo, é um estado que pode despontar ainda mais no cenário nacional e
internacional.
A sra. recebe muitos pedidos e cobranças para ajudar de
alguma forma o Paraná, apesar de a Casa Civil precisar se preocupar com
os estados como um todo. Isso atrapalhou a sua gestão de alguma forma,
foi algum tipo de incômodo?
De maneira alguma. Recebo a todos aqui com muita boa vontade e com
disposição de auxiliar, sejam paranaenses ou sejam representantes de
outros estados. Penso que temos que dar respostas aos problemas diversos
das unidades da federação. Isso tem a ver com o desenvolvimento do
Brasil. O Paraná é um estado que tem crescido muito. Hoje mesmo [dia 19
de dezembro] vi uma matéria na Gazeta do Povo mostrando que o Paraná
teve o maior crescimento econômico entre os estados. Até achei
interessante a avaliação de alguns representantes do governo do estado,
que no meu entender chegam a ser despropositadas, de que o Paraná cresce
apesar da União, apesar de o governo federal estar atrapalhando. Eu
diria que o Paraná só está crescendo no ritmo que está crescendo graças à
política econômica feita pelo governo federal. Quem faz política
econômica não é o governo do estado. Se a agricultura teve esse
desenvolvimento, é porque fizemos investimentos fundamentais. Hoje nós
financiamos a agricultura brasileira com juros subsidiados, de no máximo
5,5% ao ano. Nós temos um programa de investimentos em máquinas e
equipamentos com juro de 3,5% ao ano. E colocamos agora, no Plano Safra
2013/2014, um programa de financiamento de armazenagem também com juro
de 3,5% ao ano, três anos de carência e 15 anos para pagar. O Paraná é o
estado que tem mais projetos em análise na área de agricultura no Banco
do Brasil e que mais liberou recursos até agora. Essa pujança da
agricultura, que é um dos fatores que levantam a economia paranaense,
tem a ver com uma política de estímulo a crédito e investimentos na
agricultura. Se nós formos olhar Mato Grosso, com certeza vai ter o
mesmo desempenho. O emprego está bom no Paraná porque está bom no
Brasil. Nós temos a menor taxa de desemprego nacional da nossa história.
É óbvio que tudo isso tem reflexo no Paraná e se deve a uma política de
defesa da produção nacional e, principalmente, da indústria. Não
podemos esquecer que o Paraná recebeu três grandes empresas na área de
indústria automobilística, a Audi, a Volkswagem e a DAF Caminhões,
graças ao estímulo da desoneração de 30% no Imposto sobre Produtos
Industrializados. Aqui não tem estímulo do governo do estado. Portanto, a
política de proteção de emprego tem a ver com medidas nacionais e não
locais.
Então a sra. vê que o crescimento do Paraná não ocorre “apesar” do governo federal, mas “por causa” do governo federal, é isso?
É por conta das políticas que estamos desenvolvendo de proteção do
nosso emprego, da nossa renda, da nossa indústria e da produção
agrícola. Eu poderia dizer que, a despeito do que o governo do Paraná
está fazendo, nós crescemos. Porque nós temos no Paraná um pedágio caro,
nós temos fornecedores sem receber e tivemos agora uma política de
substituição tributária que praticamente afoga nossas pequenas e micro
empresas. Continue Lendo.
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