quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

“Se o governo do PR tivesse projetos, poderíamos ter feito mais”

Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil.

De saída da Casa Civil em janeiro, a ministra Gleisi Hoffmann começa a moldar o discurso para a disputa do governo do Paraná, em 2014. Mesmo sem oficializar a candidatura, a petista faz uma série de críticas à gestão Beto Richa (PSDB) e questiona as declarações de que a administração federal prejudica o estado. Para ela, o crescimento paranaense nos últimos anos se deve à política econômica dos governos Lula e Dilma Rousseff.

“Talvez pudéssemos fazer mais, se nós não tivéssemos um vazio, um deserto de projetos e propostas no governo do Paraná”, afirmou, em entrevista concedida no Palácio do Planalto, semana passada. Dura na avaliação do provável adversário eleitoral no próximo ano, Gleisi se emocionou ao falar dos episódios mais marcantes na passagem pelo ministério. A ministra chorou ao lembrar de uma visita que fez a uma unidade de saúde no Tatuquara, em Curitiba, para verificar o andamento do programa Mais Médicos.

Direto ao ponto: já dá para chamar a sra. de candidata ao governo do Paraná?
As eleições cabem a 2014. Portanto, é quando elas serão discutidas e as definições serão tomadas. Eu tenho várias manifestações favoráveis a eu ser candidata ao governo do Paraná, de lideranças no estado, de prefeitos, de partidos aliados. Mas essa é uma discussão que ainda vamos fazer no início do próximo ano.

Ainda existe alguma possibilidade de não ser candidata e permanecer no ministério?
 A possibilidade maior é de eu sair do governo em janeiro. Isso não quer dizer necessariamente que eu saio para ser candidata. A avaliação sobre eu ser candidata ou não será feita no início do ano, com a participação de várias pessoas e partidos que participam da política paranaense.

Então janeiro é mesmo a data-limite para a saída da Casa Civil?
Sim, a presidenta pretende anunciar as mudanças ministeriais a partir de janeiro.

Sem citá-la como candidata, qual é o desafio do PT na próxima eleição paranaense?
Apresentar uma proposta de estado que seja factível, em termos de gestão do estado, de administração, e que isso tenha como objetivo a sustentação de um crescimento e de um desenvolvimento harmonioso do Paraná e de todas as suas regiões. O Paraná é um estado rico, de gente trabalhadora, com grande potencial. Infelizmente, o atual governo do estado não tem dado os estímulos necessários nem tem feito as concertações necessárias para ampliar esse potencial de desenvolvimento.

E quais seriam essas concertações?
Uma grande colaboração que o governo do estado poderia dar, em primeiro lugar, é pagar em dia seus fornecedores. Em segundo lugar, deveria estimular principalmente a micro e pequena empresa e rever sua política de substituição tributária. Em terceiro, enfrentar de vez a questão dos pedágios distorcidos e que tanto contribui para onerar a nossa produção.

A justificativa do governo do estado para a questão do pagamento dos fornecedores passa pelo atraso na liberação de empréstimos que dependem do aval da União, o que sempre foi tratado como uma questão política e até de perseguição do governo federal. Qual é a sua visão sobre isso?
Eu lamento que se tente justificar a incapacidade e a incompetência administrativa do governo estadual e do chefe do Executivo colocando a culpa em outras situações e outras pessoas. Os empréstimos do Paraná só não saíram porque o estado estava com pendências no Cadastro Único de Convênios da União e não respeitava a Lei de Responsabilidade Fiscal, já demonstrando uma desgovernança.

Mas sempre ficou clara que essa era uma questão técnica? A sra. sabia dessas dificuldades ou ficou tudo restrito ao Tesouro Nacional?
Tudo que dependia de nós para encaminhar os empréstimos foi feito. Inclusive esses processos, quando passaram pela Casa Civil, passaram de maneira muito rápida. Não ficou sequer um dia aqui antes de ser despachado. As discussões sobre os empréstimos foram técnicas. Faltou na realidade gestão financeira e administrativa para o estado. O governo da presidenta Dilma tem se pautado por ter uma administração republicana. Todos os estados brasileiros são contemplados com recursos, programas, com os projetos que o governo federal coloca à disposição da sociedade brasileira. Fizemos um grande esforço para que o Paraná pudesse ser contemplado na maioria desses programas. E o estado foi contemplado com investimentos em rodovias, nas BRs-153, 163 a 487, que são trechos com infraestrutura finalizada. Vamos fazer a licitação da BR-163, de Cascavel a Marmelândia. Finalizamos o contorno oeste de Cascavel. Em janeiro vamos entregar o contorno de Maringá. Estamos fazendo um grande investimento em mobilidade urbana em Curitiba. Temos grandes investimentos para o porto de Paranaguá, para os nossos aeroportos, em São José dos Pinhais, no Bacacheri, em Foz do Iguaçu, em Londrina. O programa Minha Casa, Minha Vida tem um dos maiores investimentos no Paraná. Há entregas de máquinas e equipamentos, reformas de unidades básicas de saúde de unidades de pronto atendimento. Colocamos duas universidades no estado. Ou seja, o governo federal tem feito grandes investimentos no Paraná.

Mas há muita reclamação sobre o volume de repasses e de investimentos diretos em relação a outros estados.
Injustamente. Talvez pudéssemos fazer mais, se nós não tivéssemos um vazio, um deserto de projetos e propostas no governo do Paraná.

Então o problema é esse, a falta de projetos?
Com certeza. Há uma baixa iniciativa do governo do estado em relação à captação de recursos federais e de ampliação de programas e projetos.

Até agora a campanha pelo governo do estado vem sendo travada nessa esfera, numa discussão sobre uma possível discriminação que o governo do estado promove contra o Paraná. Isso vai entrar no debate eleitoral para valer, no ano que vem?
É difícil fazer uma avaliação de futuro. Eu espero que seja uma campanha que, quem quer que sejam os candidatos que participem, possa se pautar por um debate propositivo para o nosso estado. O Paraná é um estado muito pujante. Se tiver boas iniciativas e uma boa coordenação de governo, é um estado que pode despontar ainda mais no cenário nacional e internacional.

A sra. recebe muitos pedidos e cobranças para ajudar de alguma forma o Paraná, apesar de a Casa Civil precisar se preocupar com os estados como um todo. Isso atrapalhou a sua gestão de alguma forma, foi algum tipo de incômodo?
De maneira alguma. Recebo a todos aqui com muita boa vontade e com disposição de auxiliar, sejam paranaenses ou sejam representantes de outros estados. Penso que temos que dar respostas aos problemas diversos das unidades da federação. Isso tem a ver com o desenvolvimento do Brasil. O Paraná é um estado que tem crescido muito. Hoje mesmo [dia 19 de dezembro] vi uma matéria na Gazeta do Povo mostrando que o Paraná teve o maior crescimento econômico entre os estados. Até achei interessante a avaliação de alguns representantes do governo do estado, que no meu entender chegam a ser despropositadas, de que o Paraná cresce apesar da União, apesar de o governo federal estar atrapalhando. Eu diria que o Paraná só está crescendo no ritmo que está crescendo graças à política econômica feita pelo governo federal. Quem faz política econômica não é o governo do estado. Se a agricultura teve esse desenvolvimento, é porque fizemos investimentos fundamentais. Hoje nós financiamos a agricultura brasileira com juros subsidiados, de no máximo 5,5% ao ano. Nós temos um programa de investimentos em máquinas e equipamentos com juro de 3,5% ao ano. E colocamos agora, no Plano Safra 2013/2014, um programa de financiamento de armazenagem também com juro de 3,5% ao ano, três anos de carência e 15 anos para pagar. O Paraná é o estado que tem mais projetos em análise na área de agricultura no Banco do Brasil e que mais liberou recursos até agora. Essa pujança da agricultura, que é um dos fatores que levantam a economia paranaense, tem a ver com uma política de estímulo a crédito e investimentos na agricultura. Se nós formos olhar Mato Grosso, com certeza vai ter o mesmo desempenho. O emprego está bom no Paraná porque está bom no Brasil. Nós temos a menor taxa de desemprego nacional da nossa história. É óbvio que tudo isso tem reflexo no Paraná e se deve a uma política de defesa da produção nacional e, principalmente, da indústria. Não podemos esquecer que o Paraná recebeu três grandes empresas na área de indústria automobilística, a Audi, a Volkswagem e a DAF Caminhões, graças ao estímulo da desoneração de 30% no Imposto sobre Produtos Industrializados. Aqui não tem estímulo do governo do estado. Portanto, a política de proteção de emprego tem a ver com medidas nacionais e não locais.

Então a sra. vê que o crescimento do Paraná não ocorre “apesar” do governo federal, mas “por causa” do governo federal, é isso?
É por conta das políticas que estamos desenvolvendo de proteção do nosso emprego, da nossa renda, da nossa indústria e da produção agrícola. Eu poderia dizer que, a despeito do que o governo do Paraná está fazendo, nós crescemos. Porque nós temos no Paraná um pedágio caro, nós temos fornecedores sem receber e tivemos agora uma política de substituição tributária que praticamente afoga nossas pequenas e micro empresas. Continue Lendo.

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