GENEBRA
- Cinco anos após a pior crise econômica na Europa em 70 anos, a região
tem uma explosão de "novos pobres", com o aumento sem precedentes no
último meio século no número de pessoas obrigadas a buscar ajuda,
alimentos e até abrigo contra o inverno em organizações de caridade. Na
Cruz Vermelha, dinheiro que antes era coletado na Europa para enviar a
países pobres hoje tem sido usado para alimentar europeus.
Dados divulgados ontem em Genebra revelam a dimensão social da crise. Na
Espanha, 1,6 milhão de pessoas tiveram de ser atendidas em 2012 pela
entidade. Na Grécia, 300 mil pessoas dependem da instituição de caridade
para se alimentar.
Em
todo o continente, já são 26 milhões de desempregados, um recorde. Em
alguns países, o Estado de bem-estar social está sendo revisto, enquanto
gastos do governo com saúde e educação foram cortados de forma radical.
Mas o que mais preocupa é o fato de que milhares de pessoas hoje
dependem da ajuda de ONGs para poder ser alimentar.
Desespero
"A pobreza é algo novo para muitos na Europa. Por décadas, a percepção é
de que apenas estávamos caminhando em um rumo do desenvolvimento",
disse Aitta Underlin, diretora da Cruz Vermelha para a Europa. "Ninguém
pensava que a crise duraria tanto. O que vemos na Europa é a emergência
de novos pobres, pessoas que nunca pediram ajuda."
Segundo
a entidade, o que surpreende é que a crise não se limita aos países do
sul da Europa que, nos últimos anos, apresentaram uma contração de suas
economias. Na França, a Cruz Vermelha constatou um aumento de 14% no
número de pessoas solicitando ajuda em 2012.
Entre
2009 e 2012, a entidade na Lituânia foi obrigada a triplicar a ajuda
alimentar que presta no país. Em 2009, 30 mil pessoas eram alimentadas
pela Cruz Vermelha. Ao final do ano passado, o volume era de 100 mil.
Mesmo na rica Dinamarca, o número de pessoas que foram atendidas durante
o período de Natal aumentou em 100% entre 2009 e 2012. "No rosto das
pessoas, está um desespero silencioso", constatou Aitta.
Ela
destacou ainda como a Cruz Vermelha da Espanha passou por uma revolução
nos últimos meses. "Por mais de duas décadas, a Cruz Vermelha da
Espanha coletava dinheiro para ajudar justamente os mais pobres na
África. Em 2012, pela primeira vez, ela usou o dinheiro para atender
espanhóis que descobriram a pobreza", explicou.
Cortes
De fato, a busca por dinheiro para ajudar essa população tem sido um
obstáculo a mais. Georg Habsburg, presidente da Cruz Vermelha da
Hungria, revelou que o governo de Budapeste cortou em 60% seu
financiamento à entidade. "Governos estão cortando as ajudas, justamente
no momento que vemos um aumento sem precedentes em meio século no
número de pessoas pedindo alimentos e roupa."
"Tenho
recebido cartas que são para chorar. Famílias inteiras nos escrevendo
para dizer que, se usarem os últimos centavos que têm para aquecer a
casa, não terão para comprar comida", completou Habsburg.
Nilson do Nascimento
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